Durante a fase do povoamento da ilha, entre meados do século XV e meados do século XVI, o território que constitui a actual freguesia da Feteira era uma zona de fronteira entre as várias jurisdições, tanto na divisão da ilha em capitanias como na delimitação concelhia. Inicialmente na zona de influência do primeiro núcleo populacional do leste da Terceira, o lugar, depois paróquia, de Santa Ana da Porta Alegre, criado pelos primeiros povoadores na planície a leste do Pico da D. Joana, e depois, quando aquele povoado perdeu influência e foi absorvido pela actual vila de São Sebastião, na esfera de influência desta. Com estruturação paroquial e concelhia, que resultou da densificação do povoamento ao longo da primeira metade do século XVI, acabou integrado na paróquia de São Pedro da Ribeirinha, da qual apenas se autonomizaria nos inícios do século XX, mais concretamente em 1906.

No que respeita à divisão das capitanias, aquando da primitiva divisão do território da Terceira, feita em 1474, entre as capitanias da Praia e de Angra, o limite na costa sul da ilha foi fixado no actual Marco Velho, seguindo uma linha provavelmente coincidindo com a margem leste do biscoito da Feteira. Assim, aquele limite coincidia com o termo da paróquia da Ribeirinha (na configuração que teve até 1906), ficando aquela freguesia, que incluía o território da Feteira, inteiramente no território da capitania angrense. O topónimo “Marco”, presente em diversos pontos da freguesia, tem origem no marco que assinalava a demarcação entre as capitanias.

A situação atrás descrita alterou-se em 1565, quando, ouvidas pessoas experientes na geografia da ilha, por acórdão de 1565 do Tribunal da Relação da Corte, em pleito que longamente opôs os capitães do donatário de Angra e Praia, respectivamente Antão Martins e Manuel Corte-Real, o limite avançou cerca de 1 km para oeste, para a actual Canada do Marco. A demarcação final foi feita, recorrendo a pilotos, e ficou concluída a 8 de Julho de 1565, pondo termo a um pleito que durava há várias décadas (pelo menos de 1525) sobre o limite dos Altares. Em consequência, a parte leste da freguesia, entre a Canada dos Clérigos e a Canada do Marco, incluindo toda a Ponta Nova, pertencia à capitania da Praia, enquanto a parte oeste, da Canada do Marco à Ladeira Grande, pertencia à capitania de Angra. Esta divisão não foi pacífica, tendo requerido a intervenção real, e materializou-se na instalação de um marco (ainda lembrado pela toponímia do local onde se situou, a Canada do Marco).

No vertente municipal a freguesia da Ribeirinha pertencia ao termo da cidade de Angra, embora se saiba que em 1468 a freguesia da Ribeirinha, a cujo território o povoado da Feteira depois pertenceu, era curato sufragâneo da paroquial de São Sebastião. Em 1568 já estava criada a paróquia de São Pedro da Ribeirinha, estando nela incluído o território da actual Feteira. Neste contexto, quando se estruturaram os concelhos terceirenses, o limite da Ribeirinha, que então se estendia até ao final do biscoito da Feteira, passou a ser a fronteira entre os concelhos de Angra e de São Sebastião. A parte a leste daquele biscoito, entre a Canada do Marco e o actual limite da freguesia, era território do Porto Judeu e, por essa via, do concelho da Vila de São Sebastião. Tal explica as sucessivas alterações do termo leste da freguesia que ocorreram entre 1911 e 1928 (ver acima).

Localizada nesta posição periférica e numa área muito pobre de água, cuja disponibilidade constituía o principal factor limitante ao povoamento, o nascimento do povoado que deu origem à actual Feteira foi lento e tardio. A povoação original nasceu de um pequeno núcleo populacional que se formou em torno da Ermida de Nossa Senhora das Mercês, um pequeno templo construído no cimo da então Caminho das Vinhas. O povoado em inícios do século XVIII, mais de dois séculos e meio após o início do povoamento do leste da Terceira, tinha apenas seis casas de habitação permanente, o que diz da dificuldade da fixação de população naquele lugar.

Aquela ermida, que ainda mantém na essência a sua estrutura arquitectónica original, fora edificada por volta de 1590, por iniciativa do padre Manuel Martins Coelho Baião, ao tempo vigário da freguesia da Ribeirinha, a cujo território o lugar então pertencia. O lugar era então desprovido de habitação permanente e a ermida, construída a expensas próprias do padre e sua propriedade, destinava-se apenas a celebrar missa durante o período das vindimas, quando os proprietários dos vinhedos ali existentes pernoitavam durante algumas semanas em abrigos improvisados ali construídos. Anexa à ermida está uma pequena construção que permitia a pernoita do padre.

A escolha de Nossa Senhora das Mercês como invocação da ermida não deixa de ser significativa num lugar então quase desabitado e aberto para o mar. A devoção àquela invocação mariana originou-se na Espanha e tinha sido popularizada pela acção dos frades da Ordem de Nossa Senhora das Mercês, fundada por São Pedro Nolasco. Era considerada protectora dos cristãos cativos dos mouros no Norte de África, principalmente os marinheiros e mercadores aprisionados por corsários sarracenos. Era também padroeira de diversas confrarias, formadas principalmente por escravos, os quais consideravam Nossa Senhora das Mercês padroeira da sua libertação.

Sem quaisquer fontes de água potável facilmente acessíveis, o lugar manteve-se esparsamente povoado até ao início do século XIX, quando a expansão do uso de cisternas, a valorização do vinho e a abertura da estrada real facilitaram a fixação de mais famílias e o lugar foi ganhando progressivamente vida própria. Nesse período, a ermida, que entretanto tinha passado à posse da família Toste Parreira, constituiu-se como o centro da vida comunitária do lugar, embrião da actual freguesia da Feteira.

Em 10 de Setembro de 1863 o lugar da Feteira foi elevado a curato sufragâneo da paroquial de São Pedro da Ribeirinha, tendo a pequena Ermida de Nossa Senhora das Mercês como local de culto. Ao tempo o local teria cerca de 300 habitantes permanentes. Foi primeiro cura o padre Domingos Correia de Ávila.

A ermida, que ao tempo era propriedade de Inácio Toste Parreira, era demasiado pequena para nela se instalar o Santíssimo Sacramento em sacrário permanente, o que obrigava a recorrer à paroquial da Ribeirinha sempre que algum enfermo necessitasse de comungar. Em consequência, logo após a elevação a curato surgiu a vontade de construir uma igreja com dimensões adequadas, sendo intenção ampliar a ermida. Contudo, o proprietário opôs-se à ideia e não cedeu o terreno para a construção. Perante a recusa, e porque tinha acabado de ser construída a nova estrada real ligando Angra à Vila São Sebastião sem recurso à antiga estrada litoral, foi resolvido construir a nova igreja junto àquela estrada, no local onde o Caminho das Vinhas (hoje Canada das Mercês) nela desembocava.

Em consequência dessa opção, após a construção da nova igreja, hoje a Igreja de Nossa Senhora da Consolação, inaugurada em 1868, a ermida deixou de ter funções públicas, ficando a cargo dos seus proprietários. A mudança de orago da igreja paroquial resultou de Inácio Toste Parreira não ter autorizado a transferência da imagem de Nossa Senhora das Mercês, que o povo almejava para padroeira. A solução foi aceitar, aquando da inauguração da igreja paroquial, a oferta de uma imagem de Nossa Senhora da Consolação, oferecida por Maria Luísa Guedes Sampaio, ao tempo viúva de Diogo Labatt. Contudo, a benfeitora impôs como condição que a imagem mantivesse a invocação, o que obrigou a mudar a invocação da igreja. Contudo, o orago do curato, hoje freguesia, manteve-se como Nossa Senhora das Mercês, pois a Santa Sé não autorizou a mudança.

A construção da ermida do curato, futura igreja paroquial, actualmente conhecida por Igreja de Nossa Senhora da Consolação, iniciou-se pouco depois da publicação do decreto que criou o curato. Para o efeito, o governador civil do Distrito de Angra do Heroísmo, cargo ao tempo exercido por Jácome de Ornelas Bruges de Ávila Paim da Câmara, o 2.º conde da Praia, nomeou uma comissão de angariação de fundos composta por elementos da freguesia e algumas figuras gradas da cidade de Angra. O presidente desta comissão era o padre António Joaquim Borges, vigário do Cabo da Praia.

Contudo, apesar dos esforços da comissão, em 1866 as obras paralisaram por falta de fundos, estando apenas erguidas as paredes. Nesse ano foi nomeado 5.º cura da localidade, o padre António Augusto da Silveira, que achando a obra naquele impasse desenvolveu por toda a ilha uma intensa campanha de recolha de fundos, conseguindo o reinício da obra, conseguindo que dois anos depois, a 20 de Maio de 1868, véspera da Quinta-feira da Ascensão, fosse feita a solene bênção do templo, em cerimónia a que assistiu o governador civil, ao tempo novamente Jácome de Ornelas Bruges de Ávila Paim da Câmara. A primeira missa foi celebrada naquela igreja no dia seguinte, 21 de Maio de 1868.

Apesar de aberta ao culto, a igreja estava incompleta e despida, nem tendo torre sineira definitiva, a qual só ficou concluída em 1877, data que ostenta inscrita na sua fachada. A construção da sineira beneficiou de um subsídio público de 300$000 (trezentos mil réisfortes), a que se juntaram os valiosos donativos dos emigrantes terceirenses radicados na cidade do Rio de Janeiro e o produto de uma colecta realizada em toda a ilha. O dinheiro assim recolhido permitiu, para além da construção da sineira, adquirir um sino, que substituiu o pequeno sino que fora dos paços do concelho da Vila de São Sebastião e que havia sido oferecido à Feteira pela Câmara de Angra, e construir a tribuna em madeira localizada sobre a porta de entrada. As alfaias foram adquiridas em 1878, mediante um subsídio de 60 mil réis da Junta da Bula da Santa Cruzada, e o guarda-vento foi construído em 1881, por aplicação de um legado deixado à ermida por José Narciso Parreira. Só nesse anto ficou completa a igreja.

O templo mantém os traços originais, apesar do estragos que sofreu aquando do terramoto de 1 de Janeiro de 1980, já que na sua reparação se optou pelo respeito pela traça pré-existente. Também a Ermida de Nossa Senhora das Mercês, o pequeno edifício dedicado a Nossa Senhora das Mercês construído por volta do ano de 1590, apesar de sido alvo de algumas alterações aquando de obras de manutenção mantém na essência a simplicidade da sua traça primitiva.

Construído o seu templo e acrescentada a sua população, em parte devido à resolução em 1878 do problema da falta de água devido à construção de uma adutora que trouxe água desde as nascentes do Cabrito. O encanamento, com mais de 7 km de comprimento, foi construído em regime de faxinas pelo povo da então freguesia da Ribeirinha (que incluía a actual Feteira), servindo para abastecer a parte leste da Ribeirinha, a Ladeira Grande e a Feteira. Como o povo da Feteira foi o que mais se empenhou nesta construção, gozou dos primeiros três chafarizes construídos, os quais entre 1878 e 1955 foram as únicas fontes de água para consumo humano disponíveis na freguesia.

Já com uma razoável população, os desejos de autonomia da Feteira foram satisfeitos por Decreto de 30 de Novembro de 1906, que elevou o curato a freguesia independente. A paróquia foi provida do seu primeiro pároco por provisão do bispo D. José Correia Cardoso Monteiro, datada de 11 de Maio de 1907. O último cura do lugar, o padre Manuel Soares Barbosa, foi nomeado primeiro pároco da nova freguesia.

No processo de constituição da nova freguesia hou alguns desentendimentos, já que o projecto inicial incluía na nova paróquia o lugar da Ladeira Grande, mas os habitantes deste preferiram manter-se ligados à Ribeirinha. Por essa razão, a delimitação a oeste da nova freguesia foi problemática, optando-se por incluir apenas as últimas casas da Ladeira Grande, criando-se uma divisória que não segue qualquer acidente natural de relevo. No flanco leste, a nova freguesia incluiu uma parte considerável de terrenos que pertenciam à freguesia do Porto Judeu, já que a antiga divisória entre freguesias, e entre concelhos, pois o limite oriental da Ribeirinha fora durante séculos termo do concelho de Angra com o extinto concelho de São Sebastião, ficava na zona da Canada do Parada. Essa anexação também causou descontentamento no Porto Judeu, o que está na origem do Decreto de 28 de Janeiro de 1911, publicado já após a implantação da República Portuguesa, que alterou aquele limite, dando à Feteira, em troca da faixa entre a Canada do Parada e a Canada do Colério (ou do Clero), jurisdição sobre os ilhéus das Cabras. Reflexo das pressões exercidas pelo Porto Judeu, o diploma foi revogado e repristinado em 1913, vigorando até 1928, ano em que o governo da Ditadura Nacional saída do Golpe de 28 de Maio de 1926, pelo Decreto n.º 15435, de 9 de Maio de 1928, devolveu os ilhéus das Cabras ao Porto Judeu e reintegrou na Feteira o trecho entre as Canadas do Parada e do Colério (ou Clero).

O passo dos melhoramentos materiais na nova freguesia não foi rápido: logo em 1906 foi inaugurado um posto dos correios; a 4 de Abril de 1931 foi inaugurada a distribuição de electricidade, sendo uma das primeiras freguesias rurais a beneficiar desse melhoramento; em 3 de Junho de 1939 foi criada a Casa do Povo da freguesia, a qual iniciou funções em 1 de Janeiro de 1940 e teve a sua sede própria inaugurada a 3 de Outubro de 1964; a 20 de Maio de 1955 foi inaugurada o edifício escolar da freguesia, com duas salas de aula, integrada no chamado Plano dos Centenários, albergando a partir dessa data, e até à sua extinção em 2010, a escola da freguesia, que havia iniciado o seu funcionamento a 19 de Janeiro de 1906 em casas arrendadas; em 30 de Abril de 1955 foi inaugurada a nova adutora trazendo, agora sob pressão, água do Cabrito até aos chafarizes e torneiras da freguesia, mas apesar disso só na década de 1980 foi construída a moderna rede de distribuição domiciliária, agora parte do Sistema Ribeirinha-Cabo da Praia; e o passal ficou concluído em 1965, substituindo o anterior, que fora adquirido em 1951. Entre 1933 e 1939 existiu na freguesia um Sindicato Agrícola, integrado naquele ano no Grémio da Lavoura do Distrito de Angra do Heroísmo. A Junta de Freguesia foi das primeiras a ter uma biblioteca popular em colaboração com a autarquia angrense e depois com a Fundação Calouste Gulbenkian.

A escola primária da freguesia, apesar de ampliada em 2001, viria a encerrar em 2011, em resultado da reestruturação da rede escolar da ilha, sendo os seus alunos integrados na Escola Básica Integrada Francisco Ferreira Drummond, na vila de São Sebastião.

Esta freguesia tem dois Impérios do Espírito Santo, um na Canada das Vinhas e outro na Ponta Nova, edificados respectivamente em 1921 e 1928, ambos em alvenaria de pedra, sendo dos mais vistosos e melhor decorados da ilha. Tem ainda uma banda filarmónica, a Filarmónica de Nossa Senhora das Mercês, e no seu território, num antigo posto de recolha de leite, funciona a sede da Associação de Columbofilia da Terceira. Na zona do Barro Vermelho, o Aeromodelismo Terceira Clube opera um campo de voo, constituído por duas pistas em terra batida, uma orientada norte-sul, com 120 m de comprimento e 15 m de largura, e outra orientada este-oeste, com 100 m de comprimento 100m e 15 m de largura, destinadas àquele desporto. Desde Dezembro de 2012 que a Junta de Freguesia dispõe de uma quinta pedagógica, a Quinta Pedagógica da Feteira, no Caminho da Esperança.

Na Feteira existe algum comércio e alguma indústria. No seu território operou durante décadas o maior sucateiro da ilha.